Para a
vivência e celebração do Dia Mundial das Comunicações Sociais, a
Comissão Episcopal para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), prepara, todos os anos, um subsídio com orientações e
sugestões de atividades para os regionais, dioceses, paróquias e
comunidades.
O
material é enviado as coordenações e lideranças da Pastoral da
Comunicação (Pascom), responsáveis por articular e animar a comunicação
nas igrejas locais. A Comissão orienta, também, o estudo do Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil, que traz pistas de ação. Contato pelo e-mail: comsocial@cnbb.org.br
Família mais bela
A coletiva de apresentação da mensagem
contou com a presença do presidente do Pontifício Conselho para as
Comunicações Sociais, dom Claudio Maria Celli, a professora da Faculdade
de Letras e Filosofia - Departamento de Ciências das Comunicações da
Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão (Itália), Chiara
Giaccardi, e o professor da Faculdade de Ciências Políticas, Mario
Magatti.
A
reflexão proposta pelo papa Francisco está inserida no caminho sinodal
da Assembleia Ordinária do Sínodo sobre a Família que acontecerá em
outubro próximo. “A família mais bela, protagonista e não problema, é
aquela que, partindo do testemunho, sabe comunicar a beleza e a riqueza
do relacionamento entre o homem e a mulher, entre pais e filhos”,
escreveu o papa na mensagem.
Confira íntegra do texto:
Mensagem de Sua Santidade o Papa Francisco
49º Dia Mundial das Comunicações Sociais
17 de Maio de 2015
Tema: “Comunicar a família: ambiente privilegiado do encontro na gratuidade do amor”
O tema da família encontra-se no centro
duma profunda reflexão eclesial e dum processo sinodal que prevê dois
Sínodos, um extraordinário – acabado de celebrar – e outro ordinário,
convocado para o próximo mês de Outubro. Neste contexto, considerei
oportuno que o tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais
tivesse como ponto de referência a família. Aliás, a família é o
primeiro lugar onde aprendemos a comunicar. Voltar a este momento
originário pode-nos ajudar quer a tornar mais autêntica e humana a
comunicação, quer a ver a família dum novo ponto de vista.
Podemos
deixar-nos inspirar pelo ícone evangélico da visita de Maria a Isabel
(Lc 1, 39-56). “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino
saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
Então, erguendo a voz, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e
bendito é o fruto do teu ventre” (vv. 41-42).
Este
episódio mostra-nos, antes de mais nada, a comunicação como um diálogo
que tece com a linguagem do corpo. Com efeito, a primeira resposta à
saudação de Maria é dada pelo menino, que salta de alegria no ventre de
Isabel. Exultar pela alegria do encontro é, em certo sentido, o
arquétipo e o símbolo de qualquer outra comunicação, que aprendemos
ainda antes de chegar ao mundo. O ventre que nos abriga é a primeira
“escola” de comunicação, feita de escuta e contato corporal, onde
começamos a familiarizar-nos com o mundo exterior num ambiente protegido
e ao som tranquilizador do pulsar do coração da mãe. Este encontro
entre dois seres simultaneamente tão íntimos e ainda tão alheios um ao
outro, um encontro cheio de promessas, é a nossa primeira experiência de
comunicação. E é uma experiência que nos irmana a todos, pois cada um
de nós nasceu de uma mãe.
Mesmo
depois de termos chegado ao mundo, em certo sentido permanecemos num
“ventre”, que é a família. Um ventre feito de pessoas diferentes,
interrelacionando-se: a família é “o espaço onde se aprende a conviver
na diferença” (Exort. ap. Evangelii gaudium, 66). Diferenças de géneros e
de gerações, que comunicam, antes de mais nada, acolhendo-se
mutuamente, porque existe um vínculo entre elas. E quanto mais amplo for
o leque destas relações, tanto mais diversas são as idades e mais rico é
o nosso ambiente de vida. O vínculo está na base da palavra, e esta,
por sua vez, revigora o vínculo. Nós não inventamos as palavras: podemos
usá-las, porque as recebemos. É em família que se aprende a falar na
“língua materna”, ou seja, a língua dos nossos antepassados (cf. 2 Mac
7, 21.27). Em família, apercebemo-nos de que outros nos precederam, nos
colocaram em condições de poder existir e, por nossa vez, gerar vida e
fazer algo de bom e belo. Podemos dar, porque recebemos; e este circuito
virtuoso está no coração da capacidade da família de ser comunicada e
de comunicar; e, mais em geral, é o paradigma de toda a comunicação.
A experiência do vínculo que nos
“precede” faz com que a família seja também o contexto onde se transmite
aquela forma fundamental de comunicação que é a oração. Muitas vezes,
ao adormecerem os filhos recém-nascidos, a mãe e o pai entregam-nos a
Deus, para que vele por eles; e, quando se tornam um pouco maiores,
põem-se a recitar juntamente com eles orações simples, recordando
carinhosamente outras pessoas: os avós, outros parentes, os doentes e
atribulados, todos aqueles que mais precisam da ajuda de Deus. Assim a
maioria de nós aprendeu, em família, a dimensão religiosa da
comunicação, que, no cristianismo, é toda impregnada de amor, o amor de
Deus que se dá a nós e que nós oferecemos aos outros.
Na família, é sobretudo a capacidade de
se abraçar, apoiar, acompanhar, decifrar olhares e silêncios, rir e
chorar juntos, entre pessoas que não se escolheram e todavia são tão
importantes uma para a outra… é sobretudo esta capacidade que nos faz
compreender o que é verdadeiramente a comunicação enquanto descoberta e
construção de proximidade. Reduzir as distâncias, saindo mutuamente ao
encontro e acolhendo-se, é motivo de gratidão e alegria: da saudação de
Maria e do saltar de alegria do menino deriva a bênção de Isabel,
seguindo-se-lhe o belíssimo cântico do Magnificat, no qual Maria louva o
amoroso desígnio que Deus tem sobre Ela e o seu povo. De um “sim”
pronunciado com fé, derivam consequências que se estendem muito para
além de nós mesmos e se expandem no mundo. “Visitar” supõe abrir as
portas, não encerrar-se no próprio apartamento, sair, ir ter com o
outro. A própria família é viva, se respira abrindo-se para além de si
mesma; e as famílias que assim procedem, podem comunicar a sua mensagem
de vida e comunhão, podem dar conforto e esperança às famílias mais
feridas, e fazer crescer a própria Igreja, que é uma família de
famílias.
Mais do que em qualquer outro lugar, é
na família que, vivendo juntos no dia-a-dia, se experimentam as
limitações próprias e alheias, os pequenos e grandes problemas da
coexistência e do pôr-se de acordo. Não existe a família perfeita, mas
não é preciso ter medo da imperfeição, da fragilidade, nem mesmo dos
conflitos; preciso é aprender a enfrentá-los de forma construtiva. Por
isso, a família onde as pessoas, apesar das próprias limitações e
pecados, se amam, torna-se uma escola de perdão. O perdão é uma dinâmica
de comunicação: uma comunicação que definha e se quebra, mas, por meio
do arrependimento expresso e acolhido, é possível reatá-la e fazê-la
crescer. Uma criança que aprende, em família, a ouvir os outros, a falar
de modo respeitoso, expressando o seu ponto de vista sem negar o dos
outros, será um construtor de diálogo e reconciliação na sociedade.
Muito têm para nos ensinar, a propósito
de limitações e comunicação, as famílias com filhos marcados por uma ou
mais deficiências. A deficiência motora, sensorial ou intelectual sempre
constitui uma tentação a fechar-se; mas pode tornar-se, graças ao amor
dos pais, dos irmãos e doutras pessoas amigas, um estímulo para se
abrir, compartilhar, comunicar de modo inclusivo; e pode ajudar a
escola, a paróquia, as associações a tornarem-se mais acolhedoras para
com todos, a não excluírem ninguém.
Além disso, num mundo onde
frequentemente se amaldiçoa, insulta, semeia discórdia, polui com as
murmurações o nosso ambiente humano, a família pode ser uma escola de
comunicação feita de bênção. E isto, mesmo nos lugares onde parecem
prevalecer como inevitáveis o ódio e a violência, quando as famílias
estão separadas entre si por muros de pedras ou pelos muros mais
impenetráveis do preconceito e do ressentimento, quando parece haver
boas razões para dizer “agora basta”; na realidade, abençoar em vez de
amaldiçoar, visitar em vez de repelir, acolher em vez de combater é a
única forma de quebrar a espiral do mal, para testemunhar que o bem é
sempre possível, para educar os filhos na fraternidade.
Os meios mais modernos de hoje,
irrenunciáveis sobretudo para os mais jovens, tanto podem dificultar
como ajudar a comunicação em família e entre as famílias. Podem-na
dificultar, se se tornam uma forma de se subtrair à escuta, de se isolar
apesar da presença física, de saturar todo o momento de silêncio e de
espera, ignorando que “o silêncio é parte integrante da comunicação e,
sem ele, não há palavras ricas de conteúdo” (BENTO XVI, Mensagem do 49º
Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24/1/2012); e podem-na favorecer,
se ajudam a narrar e compartilhar, a permanecer em contato com os de
longe, a agradecer e pedir perdão, a tornar possível sem cessar o
encontro. Descobrindo diariamente este centro vital que é o encontro,
este “início vivo”, saberemos orientar o nosso relacionamento com as
tecnologias, em vez de nos deixarmos arrastar por elas. Também neste
campo, os primeiros educadores são os pais. Mas não devem ser deixados
sozinhos; a comunidade cristã é chamada a colocar-se ao seu lado, para
que saibam ensinar os filhos a viver, no ambiente da comunicação,
segundo os critérios da dignidade da pessoa humana e do bem comum.
Assim o desafio que hoje se nos
apresenta, é aprender de novo a narrar, não nos limitando a produzir e
consumir informação, embora esta seja a direção para a qual nos impelem
os potentes e preciosos meios da comunicação contemporânea. A informação
é importante, mas não é suficiente, porque muitas vezes simplifica,
contrapõe as diferenças e as visões diversas, solicitando a tomar
partido por uma ou pela outra, em vez de fornecer um olhar de conjunto.
No fim de contas, a própria família não é
um objeto acerca do qual se comunicam opiniões nem um terreno onde se
combatem batalhas ideológicas, mas um ambiente onde se aprende a
comunicar na proximidade e um sujeito que comunica, uma “comunidade
comunicadora”. Uma comunidade que sabe acompanhar, festejar e
frutificar. Neste sentido, é possível recuperar um olhar capaz de
reconhecer que a família continua a ser um grande recurso, e não apenas
um problema ou uma instituição em crise. Às vezes os meios de
comunicação social tendem a apresentar a família como se fosse um modelo
abstrato que se há de aceitar ou rejeitar, defender ou atacar, em vez
duma realidade concreta que se há de viver; ou como se fosse uma
ideologia de alguém contra outro, em vez de ser o lugar onde todos
aprendemos o que significa comunicar no amor recebido e dado. Ao
contrário, narrar significa compreender que as nossas vidas estão
entrelaçadas numa trama unitária, que as vozes são múltiplas e cada uma é
insubstituível.
A família mais bela, protagonista e não
problema, é aquela que, partindo do testemunho, sabe comunicar a beleza e
a riqueza do relacionamento entre o homem e a mulher, entre pais e
filhos. Não lutemos para defender o passado, mas trabalhemos com
paciência e confiança, em todos os ambientes onde diariamente nos
encontramos, para construir o futuro.
Vaticano, 23 de Janeiro – Vigília da Festa de São Francisco de Sales – de 2015.
Papa Francisco
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